Cerca de 70 mil euros é quanto é necessário no mínimo para pôr de pé uma revista à Portuguesa. “Se for por menos fica uma coisa indigna”, diz Carlos Cunha, um dos protagonistas do espetáculo “Juntos em Revista”, que está a partir de amanhã em cena e até ao dia 31 no Teatro Baltazar Dias, depois de duas apresentações no sábado e no domingo na Ponta do Sol. A receita para o sucesso, revela o actor e marido de Marina Mota, é a combinação de um bom texto com um bom elenco, com boa música e um guarda-roupa à altura. E o respeito pelo público.

“O Filipe La Féria acordou tarde para a revista”, diz Carlos Cunha, que sem tirar o mérito ao produtor, recorda que antes dele já muitos trabalhavam neste género. “Ligam-lhe porque ele é muito falado e tem uma máquina muito boa”, consta o actor, reconhecendo a qualidade da obra do encenador, mas recordando que há mais revista para além do mediático  produtor. “Não é por causa do Filipe La Féria que se faz revista. Não! O Filipe La Féria faz revista porque nós fazíamos revista, nós as pessoas de revista, que é o caso da Marina [Mota]”.

 Com um percurso de muitos anos na televisão e no teatro, dia que apoios fazem falta. Por cá a Associação Avesso conseguiu alguns para trazer esta comitiva de 16 pessoas na sua primeira iniciativa integrada no “Avesso Con(vida)”. Mas nem sempre é assim. “Normalmente os apoios são zero, o que torna mais difícil de fazer uma coisa com mais qualidade”, lamenta o actor, explicando, que sem ajuda, mesmo com casas cheias as contas não se equilibram. Uma revista tem de ter muita gente em palco, neste caso são 12, entre eles 6 bailarinos. Na comitiva juntam-se quatro técnicos, isto para não falar nos criativos que ajudam a dar forma ao espetáculo, e que não andam na digressão.

A voz de Carlos Cunha é critica por exemplo em relação à atitude de algumas câmaras do país que não abrem as portas, mesmo quando os teatros estão fechados. “Aqui acho que é uma excepção”. Inclusive nós, como andamos em itinerância, dificilmente nos abrem as portas. E eles não têm custos, absolutamente nenhuns.”

Ligado agora ao teatro ao mesmo tempo que passa à hora do almoço na telenovela “Os nossos Dias”, o actor confessa que quer continuar a fazer televisão e que só não faz mais porque não o convidam. “Eu quero é trabalhar até ‘esticar’, eu gosto da minha profissão”, confessou.

Deixa-o triste a precariedade do trabalho de actor. O não ter segurança, embora tenha de pagar a Segurança Social e o saber que é consigo que terá de contar. Não há reforma à espera. “Se um dia se precisamos de alguma coisa, não existe. Ou conseguimos arranjar alguma coisa, um dinheiro para fazer o pé-de-meia , ou então ter o seguro de saúde, se pudermos pagar”.

Com tantos contras fica o porquê de continuar, “É mais ou menos como ser mineiro. As pessoas vivem daquilo e ao principio até gostam. E têm muitas dificuldades, inclusive podem lá ficar se a mina ruir. Nós se estamos nisto é porque gostamos muito disto. E agora vai até ao fim”.

Longe do fim está a apresentação na Madeira. O grupo está esta noite e ainda quinta, sexta e sábado às 21h30m no Baltazar Dias. As sessões de sexta e sábado estão quase esgotadas. Para esta noite e amanhã há mais lugares. Os bilhetes custam 12,5 euros ou 15 euros, dependendo da localização na sala. Pelo palco vão passar Carlos Cunha, Marina Mota, António Vaz Mendes, Érica Mota, Inês Curado e Hélder Agapito.

Diário de Noticias – 28-10-2015