A companhia Contigo Teatro está de volta e acompanhada por um vulto do teatro nacional. Vem com Gil Vicente para a estreia de “Agravados”, um espetaculo com dramaturgia e encenação de Gisela Cañamero, a partir de cinco autos: Comédia de Rubena, Auto da Feira, Quem tem Farelos, e Romagem de Agravados. Para ver numa das sessões no auditório do MUDAS – Museu de Arte Contemporânea da Madeira, a 19 e 21 de Novembro, ou no Teatro Municipal Baltazar Dias, de 24 a 27 do próximo mês.

“Sabendo que o autor está contemplado nos planos curriculares do ensino básico e secundário e reconhecendo a larga importância da sua obra para testemunhar o seu e o nosso tempo, a nossa proposta é revisitar algumas das suas obras menos conhecidas, mas igualmente memórias: pela exemplaridade do seu ritmo, pela galeria de figuras – tipo e alegóricas, pela variedade de cenas do quotidiano, onde, em tom sarcástico e humorístico, se vão castigando os costumes”, refere a companhia, que com este trabalho chama ainda a atenção para os 490 anos sobre a morte do autor e 500 anos sobre a publicação de, “O Auto da Barca do Inferno” uma das obras obrigatórias do dramaturgo português.

Mas não a única, Gisela Cañamero explica o porquê de trazer Gil Vicente ao palco. “Porque Gil Vicente – a par da sua incursão pelos personagens da iconografia cristã e personificações alegóricas – entendeu que teria de ir buscar às gentes de «carne e osso» – aos sofredores, aos mouros, aos ciganos e judeus, aos parvos e aos inteligentes, aos ambiciosos, aos fingidores, aos inconformados, aos novos, aos velhos, aos apaixonados e àqueles onde o desamor já se instalou – a fonte da inspiração da dramaturgia de todos o tempos: as aspirações e as desilusões da alma humana”, refere a encenadora, pronta para partilhar com o público o universo” que, de algum modo, sintetiza a romagem de ilusões, quereres, ascensões e quedas a que o ser humano ainda se sujeita: e testemunhado, sobretudo perante as novas gerações – às quais desejamos que sejam capazes de, também através desta obra, se abrirem ao entendimento do mundo e ao reconhecimento uma das vozes criativas mais pujantes da portucalidade – o génio que marca a intemporalidade da obra vicentina.”

Entram nesta produção Ana Olim, António Garcês, António Neto, Celina Pereira, Cristina Ferreira, Fernanda Gama, Luís Varela, Maria José Costa, Pedro Santos, Rui Barata e Sandro Nóbrega, dando corpo aos personagens. O desenho de luz é de Ivan Castro e os arranjos musicais de Mário André-

Prémio Jovens Criadores do Centro Nacional de Cultura, Gisela Cañamero é encenadora, dramaturga e performer, formada pela Escola Superior de Teatro e Cinema Lisboa e pelo Conservatório de Música de Lisboa, tendo ainda um mestrado em Criatividade (Criação Teatral) pela Universidade Santiago Compostela e um doutouramento em Artes Performativas e Imagens em Movimento, pela Universidade de Lisboa.

A par da formação, tem no currículo colaborações com J.Brites, J. Lourenço, Luis M. Cintra, Carlos Avilez, Jorge Listopad, Mário Feliciano e Luís Castro.É também co-fundadora da estrutura arte pública, em Beja, onde assume a Direcção Artística, desde 1991. “Nesta, estrutura desenvolve um discurso autoral próprio, destacando a autoria e encenação para o público adulto de obras de teatro, teatro antropológico, teatro-doença, performance com cinema, performance com concerto, performances com concerto, performances dramáticas e musicais, bem com a autoria e encenação de Teatro Musical para crianças e jovens”, refere a companhia madeirense.

A par do trabalho directamente no teatro, Gisela Cañamero dá formação, tem algumas publicações.

Os bilhetes para “Agravados” custam 10 euros para o público em geral. Escolas, grupos instituições, membros de associações, teatrais pagam 3 euros, mesmo nas sessões  da noite, desde que acompanhados por um professor ou monitor responsável. Os grupos com oito ou mais elementos encontram bilhetes a 7,50 euros, assim como os estudantes não integrados em grupos de escola e maiores de 65 anos.

Diário de Notícias – 27 de Outubro de 2016