Aqui também se ousa

Iniciativa encheu o palco do Teatro Baltazar Dias e mostrou que, por cá, persiste o desejo de ousar fazer diferente.

Quem vive na insularidade não deve deixar-se retrair diante dos desafios culturais; há que »transformar as fraquezas em forças», disse Manuel Claro, coordenador executivo do Centro de Informação Europa Criativa, que ontem explicou, no palco do Teatro Baltazar Dias, o subprograma de financiamento MEDIA, dirigido ao setor audiovisal e cinematográfico.

«A Madeira está, de facto, limitada geograficamente, mas isso até pode trazer vantagens», sublinhou, em entrevista ao JM, após a sessão de esclarecimento sobre programas culturais europeus financiados, promovida pela Câmara Municipal do Funchal, através da Divisão de Cultura e Turismo. Manuel Claro, que falou logo depois de Susana Costa Pereira, responsável pelo subprograma CULTURA, deixou valiosos conselhos à plateia, composta, sobretudo, por artistas e agentes culturais, mas também por curiosos e amantes das artes e do universo cinematográfico. «Se as pessoas não reagem aos meios tradicionais de desenvolvimento de audiências, então, é preciso encontrar outros e trazer à Região novidades, novas apostas culturais que vão ao encontro das expectativas de outros públicos».

Questionado sobre a possibilidade de o cinema europeu e cinema de autor vingarem no mercado madeirense, Manuel Claro afirma que, primeiro, terá de haver «vontade(s)» para criar «alternativas aos blockbusters americanos» e cativar e juntar esse público “divergente”, que procura o cinema não comercial. Refira-se que o apoio do MEDIA ao nível dos festivais de cinema passou a constituir a maior percentagem para os avaliadores, sendo que «40 pontos em 100 têm a ver com estratégias de desenvolvimento de audiências», lembrou, destacando a qualidade e o reconhecimento internacional dos festivais de cinema portugueses – «são muito bons, inovadores e, no cinema de autor, somos altamente reconhecidos no contexto europeu».

Sobre a pertinência e impacto do programa MEDIA no desenvolvimento de projectos ligados ao cinema e ao audiovisual, Manuel Claro diz não ter dúvidas de que, sem este, muitos projectos não veriam a luz do dia. Susana Costa Pereira, por seu turno, revelou ao JM que teve oportunidade de falar com várias entidades madeirenses que demonstraram interesse em apresentar propostas, fazendo questão de referir que, quer o MEDIA quer o CULTURA estão concebidos para «suprir os próprios obstáculos impostos pela insularidade». Ambos os responsáveis acreditam que até 2020 esta será uma Europa ainda mais criativa em ambos os sectores.

Jornal da Madeira – 9 de Setembro de 2016